sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Miniaturas de Outdoors

Estive nas últimas semanas refazendo um percurso de metrô, trabalhando em um freelance, sabe? Engraçado … no meu tempo de 'estudante copiante', não me lembro de professor algum dizendo que precisava realizar trabalhos de freelance … coisas da modernidade, certamente.

Alternei nas linha dia-a-dia para não cansar das paisagens concretadas ou humanizadas. Tenho dessas coisas desde que descobri que São Paulo não é tão grande assim, geograficamente falando, como o bom paulistano insiste em acreditar. Linha azul, verde, vermelha, amarela … singulares em especificidades, mas sempre lotadas no horário de pico (é impressionante como as pessoas 'pipocam' do nada às 17h30).

Em meio a esse formigueiro humano (ensandecido, diga-se de passagem) observei uma sequência de outdoors miniaturas que acompanhavam as escadas rolantes com mensagens parabenizando o profissional de educação física pelo seu dia – 1• de setembro. Várias mensagens legendam figuras de profissionais de educação física (ou pelo menos penso que sejam) protagonizando a função exercida, sempre muito sorridentes e de belezas generosas.

O fato é que estamos em 15 de outubro e, pasmem, a homenagem continua lá nas miniaturas de outdoors há exatamente 1 mês e 14 dias. Engraçadinhas essas miniaturas! Ora, devíamos reclamar ao departamento de publicidade e propaganda da empresa que administra o metrô pela falta de consideração com o cidadão que tem de ler repetidamente por 44 dias as felicitações ao profissional de educação física … Ora, ora, se é assim por que não homenagear a secretária em seu dia 30 de setembro, ou quem sabe as abelhinhas e o poeta (justo!) nos dias 03 e 04 de outubro?

Francamente, podiam homenagear a minha amiga Sisina que faz anos em 15 de outubro, ao menos para diversificar as miniaturas de outdoors (que são umas belezinhas, vocês precisam ver!) … o cidadão que ali transita todos os dias da semana deve cansar de apreciar a mesma homenagem …

Sabe-se lá, não é? Vai ver que o criativo colaborador que é responsável pela seleção dos homenageados não tomou conhecimento que 15 de outubro é dia de aniversário da Sisina … quem sabe, também, ele é autodidata desde que aprendeu a limpar a bunda sozinho … Difícil de entender essa nação verde-amarelo-azul e branco (faltou o vermelho de vergonha na cara) ... tão difícil quanto aprender trigonometria, que é tri-complicada, ou aquela confusão belíssima do DNA (desculpem-me meus amigos matemáticos e biólogos!) ...

Vocês, caros amigos, devem pensar neste exato momento que ando carente de reconhecimentos, não é?

É bem verdade que tenho precisado de férias em Paris ou, quem sabe, uma bolsa de estudos em Portugal!!! Bolsas, sapatos, perfumes variados (eu sei que é ostentação, eu sei …), de um cupom premiadíssimo para o cabeleireiro e cia. com validação infinita … ah, e também de um motorista particular … Mas em relação ao reconhecimento profissional tenho estado satisfeita. Está certo que um elogio do chefe é bom de quando em vez, mas tenho tido protestos tão fervorosos que até me esqueço dos elogios (eu deveria chorar, mas tenho me permitido o riso ultimamente).

Também, neste ano mais precisamente, tenho colhido o melhor reconhecimento que um profs pode almejar na vida: a compreensão e admiração mútua que tenho dedicado e recebido de uma parcela pequena dos meus alunos, mas imensamente significativa … É, não é de reconhecimento que preciso agora ...

Na verdade o que eu preciso, aliás, o que nós precisamos é de algo simples mas que dê conta de carregar o sentimento do mundo, uma vez que cada um de nós temos apenas duas mãos, parafraseando Drummond no verso e reverso …

Eu sei que salientar as condições moral, psicológica e, muitas vezes, solitárias das quais nos colocamos de frente é redundância. Mas o que seria de nós, professores, se não fosse a redundância do sentimento que nos impulsiona?

Então, neste 15 de outubro, mesmo sem a homenagem do metrô, quero dizer a todos vocês que eu os admiro e desejo um caminho repleto de poesia, porque afinal temos de concordar que todo professor é poeta (e, talvez, louco).

Desejo a todos vocês que sejam extremamente felizes porque Artur da Távolla questiona precisamente : “ De que adiantará um discurso sobre alegria se o professor for um triste”

Desejo, também, que tenham a consciência do ganho imaterial constante porque Guimarães Rosa afirma epifanicamente que “Mestre não é quem sempre ensina, mas aquele que de repente aprende”

Espero que protagonizem simplificadamente porque Cora Coralina disse que “Feliz é aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”

Aspiro que tenham a sabedoria de que “todo ser humano é um estranho ímpar”, como dizia Drummond

E, finalmente, da forma mais verdadeira e companheira, desejo que amem o próximo incondicionalmente, seguindo o caminho com o professor maior, Jesus Cristo.

Ah, uma última observação: a Sisina realmente aniversaria hoje e, pasmem, é professora … isso que é predestinação …

Um grande beijo e um ótimo dia, queridos professores!