segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Maria Bonita I

 A Sisina Peruzin

Maria Bonita era bonita.
Dizia-se tranquila, serena quando na verdade era tempestade.
Esbravejava como trovão tardio que reclama a sua existência.

Faceira feito brisa em pleno verão brasileiro, Maria Bonita conseguia o que queria.
Travava lutas romanescas com tudo que discriminava os mais necessitados.
Dava luz à escuridão daqueles que julgava serem cegos.
Alimentava as esperanças daqueles que já não a tinham.

Sonhava.
Sonhos possíveis e impossíveis a rodeavam feito bambolê na cintura.
E ela dançava, contornando forma imprevista e vivenciando aquilo que só existia no etéreo.
google images
Porque a vida ela queria.

Maria Bonita era bonita.
Amava e era amada.
Recitava e era recitada.
Sabia e era sabida.

Maria Bonita, é assim
Nuvem trigueira que procura abrigo
Borboleta precoce que sai em busca do desconhecido
Mas que sempre retorna ao conhecido
Traçando um caminho que possa encantar o seu inquieto coração.

É assim que é Maria Bonita.
Bonita, a Maria.


quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Sobre desconsertos

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O sono escapuliu por uma fresta qualquer e estou  aqui pensando na minha necessidade em aprender a tocar violão. 

Isso realmente é engraçado porque até ontem eu tinha  necessidade em aprender a fazer arte ... é, fazer arte, ser uma artesã. Fico pensando na Moça tecelã da Marina Colasanti , na minha amiga Giane Mussi e no Rodrigo Flauzino que fazem arte ... e penso como eles realmente são felizes em manusear sentimentos.

Revirei meus filmes ... todos eles ... separei aqueles que realmente me fazem chorar e decidi assisti-los todos, não porque quero chorar mas por serem  belos. Ah, e lembrei que não tenho coragem de assistir a  Marley & Eu ... não, não posso ... choraria incessantemente por três longos dias. Eu sei disso.

Procurei, também, aquele meu caderninho cheio de anotações epifânicas, tanto as minhas quanto de todos os escritores que admiro e cheguei a conclusão que sou muito presunçosa. Afinal  minhas anotações não deveriam estar juntas às epifanias daqueles que realmente são ...  e onde está meu caderninho?

Agora estou aqui, ouvindo pela milésima vez Need You Now, de Lady Antebellum e não sei o que fazer ... talvez eu deva tentar dormir escutando outra música, não sei ... talvez eu deva tentar arrumar tudo o que eu tirei do lugar ... é, talvez seja isso.  

Talvez seja só saudade e uma inquietação que me impulsione a aprender a tocar violão para consertar tudo aquilo que não me compreende ... apenas isso.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Pequenas epifanias


 
 
 Já que não posso virar uma reacionária e lutar contra esse sistema fajuto que aniquila a essência das pessoas, dou-me folga!

Pequenas epifanias

    arte 
           da 
                 palavra 
                               alheia 
                                          é 
                                              pura 
                                                        inspiração 
                                                                          para 
                                                                                   o 
                                                                                       meu 
                                                                                                (in)consciente.

Pequenas epifanias

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A saudade entorpece qualquer espécie de sentido.

Pequenas epifanias

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 Não tenha dúvidas. É com você que sonho. É por você que suspiro. É de você que tenho saudades no instante seguinte da despedida. Não tenha dúvidas, não crie dúvidas.

Pequenas epifanias

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Há tanto o que se escrever ... há tanto o que externar ... preciso urgentemente da paz que impulsiona os meus desejos mais côncavos.

Pequenas epifanias

expoartsmolinero.blogspot.com
 
 
 Hoje a noite não tem luar ... a saudade é duplamente maior.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Uma carta de amor

Amo em silêncio
B. Crewe, B. Gaudio e Paulo Sérgio Valle

Guardo no peito
Esse amor por você
É a canção
Que eu quero cantar
É um poema deixado no ar
São palavras
Querendo viver...

Andrei-Protsouk
Amo em silêncio
No meu coração
Amo em silêncio
Amo!
Guardo essa paixão...

Sou como a estrela
Que o dia não vê
Que espera
A noite chegar
Hoje meu mundo
É só eu e você
E é nos sonhos
Que eu vou
Te encontrar...

Amo em silêncio
No meu coração
Amo em silêncio
Amo!
Guardo essa paixão...

Meu coração
Não quer mais
Se guardar
Bate forte
E quer ter você
Sou como o sol
Que precisa nascer
E nas sombras
Não pode brilhar...

Amo em silêncio
No meu coração
Amo em silêncio
Amo!
Guardo essa paixão
Guardo essa paixão
No meu coração...

domingo, 2 de outubro de 2011

Descobertas - Eu velho Miró

  O texto a seguir é de um já grande amigo que conheci em minhas andanças virtuais. 
Um grande cronista, caso o queira ser ...




Joan Miró, Estrela Cadente
Eu velho Miró 
 

Eu quis ser velho, eu quis ser velho feito Miró.
Feito Miró calmo e sereno! Sem dar explicações!

Eu quis ser velho como Miró, pois o velho já passou tudo. Perdeu pai, perdeu mãe.

Eu quis pular o tempo. Eu quis ser velho. Velho feito Miró.

Quis ser velho feito Miró porque fui covarde de envelhecer. E de sofrer tudo o que o velho tem que fazer.

Eu quis ser Miró. No tempo de Miró. Elegante, pernas cruzadas, trabalhando, sério, lúcido, telas e cores.

Desordem, pura ordem. Sem explicar.

Eu quis ser velho, eu quis ser Miró.

Eu quero ser velho feito Miró.
                                               
                                                  Paulo Henrique Flauzino

Sobre vazios

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 As palavras que hoje pressinto me parecem vazias. Vazias porque não me são ... vazias porque são arremessadas ao vento como se fossem folhas secas a rodopiarem em busca de algum sentido. 

Não posso com o inexpressivo ...  me perco do eixo que equilibra aquilo que me impulsiona e me vejo a girar em torno de mim mesma,  procurando as verdades que ainda não me são permitidas ... talvez nunca me serão peculiares ... talvez eu não as mereça ... talvez.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Tristesse

Boa noite, Sra. Tristeza

Venho através desta, humildemente, solicitar que me deixe ... 

Deixe-me porque não posso ser triste, tenho inúmeras obrigações que me requerem plena ou, ao menos, serena.

Deixe-me porque tenho um mundo de coisas vivas dentro de mim e preciso compartilhar com aqueles que são mais tristes  do que eu.
Chaline Ouellet, fineartamerica.com

Deixe-me porque preciso aprender a amar e resignar-me ao que propus antes de aqui chegar.

Deixe-me porque hoje não tem lua e não poderei sentir o brilho dos olhos dele ...

Deixe-me, por favor, porque estou viva e quero viver.

Você pode chegar de mansinho de vez em quando ... eu não me importo, não. Só não pode marejar meus olhos toda vez que eu enxergar que esse mundão aniquila a  essência das almas.

Então, Sra. Tristeza, procure outros campos, outras paragens porque eu já não posso mais ser triste assim ... assim de não me sentir mais em mim ...

Sem mais,

Até breve!

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Falar de amor

 Falar de amor é um presente que ganhei de um Anjo ...
sendo assim, a autoria não é minha



Falar de amor é querer encontrar uma explicação na razão
De algo que se encontra inteiramente morando na emoção.

Porque o amor não se explica, se sente!

É o sol surgindo no entardecer
São as estrelas do amanhecer

É a brisa suave se misturando a um vendaval
De sonhos e desejos

É o coração batendo mais forte
Quando a pulsação parece parar

Sentir amor é enxergar o que de olhos fechados
Somente o que a poesia consegue ver
E o que de olhos abertos, a insensibilidade
Te aconselha a se afastar

O amor é aquilo que muitas vezes
Não se consegue dizer,
Mas a música e a poesia traduzem
E manifestam em versos delicados e profundos

Amar é chorar sorrindo
Por simplesmente estar ali vivendo tudo aquilo
E sorrir após ter chorado por alguém

Ao saber que um dia tudo aquilo foi vivido


por Débora C. Silva
É o chegar e partir
É o gritar e calar
É o curar e ferir
É o fugir e achar

E no fim de tudo, quando o tempo parar,
A juventude se for
E no horizonte o que vem após surgir
Eu possa dizer pra mim mesmo
Que num instante qualquer da eternidade
Eu consegui falar de amor!



Um comentário, apenas ...

Ando cansada de conquistas furtivas, que escorrem entre os dedos das mãos feito água torrente. Talvez o motivo esteja nas buscas infundadas, na ânsia das inúmeras tentativas de ser feliz. Não foi assim que planejei, não foi assim que escolhi ... e isso mata-me um pouco a cada dia.

Lembro-me de uma aula acadêmica em que o professor dizia que "bastavam sete anos para tudo na vida" ... hoje entendo a preconização, intencional ou não, mas que se faz como praga de mãe.

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Aí me encontro cinza, morna, morosa ... procurando um meio de ser feliz porque sei que não posso ser triste - isso é luxo.

Razões? Seria muito prolixa ao tentar explicar aqui ... Soluções? Talvez a resignação ... talvez.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Sobre cartas - agradecimentos

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Há alguns dias escrevi  um texto ...  um texto especial, tecido de forma surpreendente e derivado de um encontro de almas. Encontro este, que possivelmente pessoa alguma alcance - talvez nem nós mesmos ... pelo menos neste plano.

Por ser tão especial assim, recebi muitos comentários, menções e congratulações sobre o mesmo. Porém, optei por não postá-las aqui por um simples motivo: apesar de escrevê-lo, Sobre cartas pertence a quem me possibilitou a escrita. 

São dele todos os méritos e toda admiração que esse texto possa causar, assim como todo esse sentimento que me envolve, permitindo que nos sintamos cada vez mais vivos.

Obrigada, então, a todos que compartilharam a essência desse encontro que está além de todas as explicações pautadas pela razão, mas que se faz cada vez mais real porque foi, é e sempre será lindo ... por toda a eternidade.

A saber ...

Recebi recentemente  um e-mail de um  leitor que por aqui passa frequentemente, questionando qual era afinal (e frisem bem esse afinal que no e-mail original foi grafado em maiúsculo) o objetivo do que aqui escrevo: "se era afinal (em maiúsculo, só para constar) um espaço de discussões sobre as inquietações da alma, como o proposto na apresentação, ou mais um blog 'enfeitadinho' das coisas de um coração de menina querendo colo e que ama de forma exagerada". Rs ... sem contar que a utilização constante de reticências parece ter incomodado bastante.

Achei um tanto engraçado, principalmente o 'enfeitadinho' e a verbalização da palavra carência em 'coração de menina querendo colo', rs ... que mimo!

É impressionante como as pessoas enxergam a vida por ângulos tão contraditórios ... fico maravilhada e agradeço a Deus por isso ... só de imaginar todos os olhares direcionados a um único ponto estático do universo, meço o quão desperdiçado seria a inteligência concedida a nós, míseros humanos imperfeitos.

Resolvi, então, respondê-lo por aqui mesmo (juro que tentei ser o menos espartana possível). Segue minha carta-reposta:


Caro leitor Coração de Chumbo,

Primeiramente,  o blog é realmente 'enfeitadinho' porque eu sou uma 'gracinha', tão graciosa que meus olhos piscam como os da gatinha Marie (tão meigo, não?).

Depois, você realmente acertou no 'coração de menina querendo colo' ... quero colo constantemente porque sou normal, pelo menos para as conveniências da espécime a qual eu e você pertencemos e, sinceramente, sem falsa modéstia,  é bem interessante me conceder colo.
... ah, desculpe-me ... utilizei novamente as reticências ... (vou contar-lhe um segredo) tenho um tic - o das reticências - e nisso nos parecemos, uma vez que depois de ler o seu e-mail pude diagnosticar  que você também tem um tic ! O tic da pernóstica.

Finalizando, Vilarejo é sim um espaço para  discussões sobre inquietações da alma ... porém, da minha alma e não da tua. Aqui fala mais alto o que o meu coração está cheio, seja a contento ou não da vossa pessoa. E no mais, gostaria imensamente que você corrigisse uma informação: não amo exageradamente ... amo descomedidamente.

Envio por e-mail um tutorial para que você possa criar um blog próprio, que seja racional o suficiente para satisfazer seu desejo de nulidade.

Desejo-lhe pétalas de amor em seu coraçãozinho!

Sem mais,

Adeus.




domingo, 14 de agosto de 2011

Sobre cartas

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Há tempos eu queria escrever uma carta para você. Uma carta singela, de poucos versos que sugerissem muitos reversos. Daquelas inesperadas pela chegada, mas fatídicas pelo destino.

Nela eu pensei em compor uma melodia que fizesse você dançar, que vibrasse vida a cada nota imprecisa e o contaminasse com a mais sincera alegria.

Queria, também, que você se identificasse com cada palavra não dita, com cada palavra omitida e percebesse que as que forem escritas, foram realmente sentidas.

E talvez você pudesse guardar para relê-la nas horas que tudo parecesse cinza e entendesse que seria preciso colorir de arco-íris.

Nessa carta eu revelaria tudo o que eu soubesse ser, sem olhos fugidios porque os meus já estariam presos aos seus.

Poderia, também, citar suas canções preferidas para embalar a saudade de tudo o que não conhecêssemos, de tudo que ainda não fossemos.

Seria uma carta perfumada para que você quisesse e esperasse a próxima ... com um selo delicado em preto e branco, no qual você reconhecesse a mim ...

E assim, com essa carta, talvez eu dissesse tudo aquilo que eu ainda não sei te dizer, mas que me é,  indelevelmente.

Queria escrever para você.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Village Café - 25 de julho: dia do escritor

aeioudideias.blogspot.com
Escrever é troca, transformação, emancipação ... é um saber dolorido que marca, vicia e persiste  trazendo  à tona os mais ininteligíveis sentimentos que permite ao ser escritor que simplesmente seja.

"... Era um sonho muito bonito, todo acontecido em azul; tinha azul para qualquer gosto, do mais fraquinho ao mais forte. Eu estava lá mesmo, deitada na praia. E era de madrugada. Na minha frente tinha uma parede tapando o mar. Vi duas janelas na parede. Me levantei para ir olhar.
Numa estava escrito A TROCA; na outra, a TAREFA. Uma estava fechada; espiei pelo vidro fosco mas não enxerguei nada do outro lado. Bati no vidro, bati, bati com força. Mas só ouvi o barulho do mar.
Fui para outra janela. Também fechada. E o vidro também: não me deixando ver do outro lado. Bati.
- Que é?
Até me espantei de ouvir a voz perguntando.
- Abre - eu respondi - Eu quero ver do outro lado.
A janela continuou fechada. Mas a voz falou:
- Eu te livro desse amor, desse peso.
- O quê?
- Esse amor que você está sofrendo, essa vontade que você está sentindo de morrer: eu te livro disso.
- De que jeito?
- Quando a história estiver pronta você vai ver.
- História? que história?
A voz falou mais baixo:
- Escreve a história dessa dor e eu te livro dela. É uma troca: eu te prometo.
- O quê? Fala mais alto, eu quase que só escuto o mar.
- O mar. Lembra da poesia que você escreveu?
- Foi tão bom!
Aí a voz se confundiu com o barulho do mar. Eu acordei. A noite já ia virando dia; o céu era meio vermelho e a praia estava muito bonita. Dentro de mim tinha uma curiosidade nascendo: será que eu ia conseguir fazer uma história da dor que eu estava sentindo?
Voltei para o internato. Cada hora do recreio, cada domingo inteiro, cada hora-de-fazer-dever eu escrevia a história da minha vontade de morrer. E fui achando tão difícil de fazer, que, em vez de sentir vontade de morrer, eu só pensava como é que se fazia a história de uma vontade de morrer, em vez, de sentir a dor do amor, eu só sentia a força que eu fazia para contar a dor.
Então, quando um dia a história ficou pronta, a vontade de morrer tinha sumido; o amor pelo Omar também: no lugar deles agora só tinha a história deles. Fiz que nem na poesia: transformei o Omar no mar. Um mar tão bom de olhar. E inventei uma ilha pra botar nele: uma ilha para eu ir lá morar: de praia de areia fininha, onde o mar chegava a toda hora. E fui inventando uma porção de coisas pra acontecer na ilha. A história ficou tão grande. Acabou virando um livro. Foi o meu primeiro livro. Se chamou "Do outro lado da ilha" (...)
Os anos foram passando. E eu não parei mais de transformar: tinha me acostumado com aquilo. Levantava (levantava cedo), tomava café (com leite), escovava os dentes (já pensando o que que eu ia escrever), fechava a porta (não sei transformar de porta aberta) e começava: pegava a lembrança de uma maiga de infância que eu nunca mais tinha visto, imaginava a vida que ela tinha levado; virava ela num personagem principal; pegava o quarto de um hotel em que eu tinha ficado numa viagem e virava ele num capítulo; pegava a vontade que eu tinha tido aos 10 anos de ser astronauta e transformava ela numa viagem espacial em 200 páginas; pegava a saudade da minha mãe que tinha morrido (ela se chamava Violeta) e transformava a saudade num buquê que o herói do meu último livro ia dar para a namorada.
Fui me sentindo tão poderosa de poder transformar tudo assim!
Quando acabava um livro, mal descansava: já começava outro. Eu não queria mais descansar: eu só queria ficar assim: virando, escrevendo: aqui: na minha mesa de trabalho. Cada ano que passava eu ficava mais e mais horas aqui ..."

In: A troca e a tarefa. Tchau. Lygia Bojunga

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Village Café - Inquietações²

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 "Ando angustiada demais, meu amigo, palavrinha antiga essa, angústia, duas décadas de convívio cotidiano, mas ando, ando, tenho uma coisa apertada aqui no meu peito, um sufoco, uma sede, um peso, não me venha com essas história de atraiçoamos-todos-os-nossos-ideais, nunca tive porra de ideal nenhum, queria era salvar a minha, veja que coisa mais individualista elitista, capitalista, queria ser feliz, cara."
Caio Fernando Abreu

terça-feira, 21 de junho de 2011

Prendre des notes - Tuesday with Morrie

mitchalbom.com
Prende de notes é uma seleção de posts destinados à anotações sobre os livros que pretensiosamente tento desvendar. Não há aqui a intenção de resenhar (mesmo porque a tendência é escrever em primeira pessoa - a minha pessoa) ... talvez a intenção seja puramente o ato de  registrar, apenas isso ...

Optei por começar com Tuesday with Morrie, de Mitch Albom traduzido no Brasil como A Última grande lição: o sentido da vida, por José J. Veiga (com a mesma simplicidade adjetivada em a Hora dos Ruminantes) e publicado em 2008 pela editora Sextante.

Com uma linguagem aberta, marcada por aforismos cotidianos, Mitch Albom conta em um projeto chamado de 'última tese', os meses finais da vida de um professor universitário, Morrie Schwartz, vitimado pela E.L.A (doença neurodegenerativa que atrofia os nervos progressivamente).

Denominado como um livro de autoajuda, A última grande lição, de ajuda nada tem porque é um livro no qual encontramos uma dualidade de sensações: ao mesmo tempo que compadece, consola e acalenta, causa um sentimento de impotência que, apesar de revoltar e incomodar ao digníssimo ser humano, proporciona um emaranhado de dúvidas. Daí, então, questionamentos não podem ser classificados como autoajuda, mas sim como apreensão.

A filosofia prática de Mitch e Morrie, que se caracteriza pelas mais simples ações do ato de viver, conquista espaços bem de mansinho, como se nada quisesse para provocar uma reflexão avassaladora sobre valores que compõem a natureza do homem em sociedade.

Impossível não aprender - e apreender - ao menos uma gotinha desse relato escandalosamente perturbador para aqueles que são providos do segredo de todas as possibilidades, da benção de todas as provações, da cura de todos os males - o amor, puro e simplesmente amor ...

p. 38 - “tensão de opostos

p. 42 - “Tanta gente anda de um lado para o outro … que tenha alcance e sentido.

p. 48 - “O mais importante na vida é aprender a dar amor e a recebê-lo.

p. 52 - “sorte em se despedir ...

p. 70 - “Quando se aprende a morrer, aprende-se a viver.

p. 77 - “ … sem amor somos pássaros de asas quebradas

p. 99 - “ … precisamos descobrir o que existe de bom e verdadeiro em cada fase de nossa vida.

p. 104 - “Só um coração aberto permite à pessoa flutuar em igualdade entre o semelhante.

p. 124 - “Quando estamos na cama, estamos como mortos.

sábado, 11 de junho de 2011

Sobre mãos


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"Dá-me a tua mão desconhecida, que a vida está me doendo, e não sei como falar."
Clarice Lispector 



Acho que essa é a nossa ... Obrigada por estar completando aquilo que tanto me falta com o vazio que tanto lhe incomoda ... Você é assim ... e eu gosto.

Teu nome, caro ser humano, é pretensão

Hoje fui espectadora de uma das atitudes mais deploráveis que um ser humano pode cometer ... 

Senti-me enojada, constrangida e completamente infeliz ao assistir um ato de preconceito tão irracional que não vale a pena transcrever aqui. 

Que ser é este capaz de retroceder a  ponto de ser tão primtivo quanto uma pedra?

Assusta-me muito um ser que se denomina humano agir com tamanha pretensão na aspiração infundada em ter poder para julgar o semelhante como se fosse o detentor de todas as verdades quando estas não existem. 

Não há verdades absolutas ... não, não há. O que existem são possibilidades ... apenas possibilidades.


quarta-feira, 8 de junho de 2011

Das insônias

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43.122 ... 43.123 ...  Espera aí ! Como é que se faz poesia com quarenta e três mil cento e vinte e quatro carneirinhos insoníferos???

De sonífera a Ilha não tem coisa alguma ...

43.125 ... 43.126 ... 43.127 ...

domingo, 5 de junho de 2011

Village Café - Inquietações

 Aspiração


Tão imperfeitas, nossas maneiras
de amar.
Quando alcançaremos
o limite, o ápice
de perfeição,
que é nunca mais morrer,
nunca mais viver
duas vidas em uma,
e só o amor governe
todo além, todo fora de nós mesmos?


O absoluto amor,
revel à condição de carne e alma.


 
Carlos Drummond de Andrade






sexta-feira, 3 de junho de 2011

Das indefinições

Hoje, em plena idade relativamente suficiente, tenho fixação em saber em qual dia da minha vida não me senti tão fora do tudo

Antigamente eu pensava que tudo se encaixaria algum dia ... mas o dia chega todo dia e nada, exatamente nada,  está no lugar ... Fico pensando se o problema consiste no simples vislumbramento de um  futuro que cogitei em algum momento da minha vida e daí fixei como sendo aquilo que deveria ser, ou se advêm de alguma decepção pueril que ainda trago resquícios,  ou se é essa realidade fragmentada em que as pessoas, as verdades e a normalidade são sempre pela metade,  picotadas como se fossem papéis avulsos jogados a esmo.

Sabe-se lá se não sou apenas uma simples figurante de coisas fugidias que caiu aqui nesse Mundão para reverenciar a saudade de algo que foge da minha capacidade interpretativa? 

Não sei ... realmente não sei, e a única coisa que tenho certeza é que essa quantidade inoperante de talvezes têm me incomodado de tal maneira que foge da trivialidade das incertezas. Queria, egoisticamente, ser única neste mar de indefinições ... mas, pelo que me é permitido ver, o naufrágio é grande ... muito grande.


terça-feira, 31 de maio de 2011

Sobre Hilst, a Hilda

por Débora C. Silva
Venho de Tempos Antigos
 

Venho de tempos antigos. Nomes extensos:
Vaz Cardoso, Almeida Prado
Dubayelle Hilst... eventos.
Venho de tuas raízes, sopros de ti.
E amo-te lassa agora, sangue, vinho
Taças irreais corroídas de tempo.
Amo-te como se houvesse o mais e o  descaminho.

Como se pisássemos em avencas
E elas gritassem, vítimas de nós dois:
Intemporais, veementes.
Amo-te mínima como quem quer MAIS
Como quem tudo adivinha:
Lobo, lua, raposa e ancestrais.
Dize de mim: És minha. 

Hilda Hilst

Sobre poetas de águas doces

A Guilherme Giancarlo, um certo passarinho ....                                                                                                 Hoje conheci um poeta de águas doces, daqueles que cheiram a jasmins e falam a trovões. Não me lembro de nomes. Só sei que ele cheirava a jasmim. Disse coisas fúteis, maldisse efemeridades e bendisse ostentações. Nem sei por que o chamei de poeta ...

Sei que dele exalava aquele cheiro jasmínico que insultava a minha inteligência. Ora, como pode cheirar a jasmim se me é invisível a ternura dos seres eleitos?

O fato é que não consigo deslumbrar aquele cheiro. E disso tenho raiva porque me toma o meu próprio cheiro. 

Se ao menos fosse inteligível a mínima gratidão ... mas não, não o quer ser. É um gatuno de ares nostálgicos seguros, o que me incomoda de uma forma nada incólume, já que pode roubar a minha paz mesmo que instantaneamente.

No entanto, desejei ardentemente inspirar aquele cheiro até que não fosse mais um cheiro ... até que fosse o ar que respiro. Poeta estúpido que me faz epifânicamente ingênua.

sábado, 28 de maio de 2011

Village Café - Café com Pão



Trem de Ferro

Café com pão
Café com pão
Café com pão

Virge Maria que foi isso maquinista?

Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
(trem de ferro, trem de ferro)

Oô...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
Da ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!
Oô...
(café com pão é muito bom)

Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matar minha sede
Oô...
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Oô...

Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...
(trem de ferro, trem de ferro)

Manuel Bandeira



quinta-feira, 12 de maio de 2011

Sobre enevoar

Henri Matisse
Não sei como tudo acabou. Bobagem ... se ao menos soubesse como tudo começou dava-me por refeito.

O fato é que acabou. Acabou tão leve e distante como tudo começou. Engraçado como a convivência engessa a trivialidade das trocas. E o pior é que nem nos damos conta disto … mas ela sempre dizia que eu era um desapercebido nato. Talvez por isso ela se foi, em um desses meus atos de desaperceber. Talvez.

Poderia, agora, reclamar aos deuses inverossímeis o cheiro dela, o gosto da boca de café, o peso das pernas sobre as minhas ... mas, não, não é isso que me falta ...

O que me é exíguo até ao ato de respirar quando lembro do nosso equívoco - sim, fomos equívocos cúmplices - é a estampa dela dormindo que teima em não esfumaçar-se. Quando dormia, mudava de cor ... variava em nuances pardas enevoadas. Encolhia-se toda em si mesma, abraçando com a mão esquerda o travesseiro como quem agarra-se a última chance. Sempre de bruços, a mão direita espalmava a parede gélida suportando todo o peso do mundo e os pés dançavam melodias suaves com perspicácia de bailarina. A respiração contínua, tranquila fazia preces de agradecimento. A boca levemente cerrada, de forma a delinear as palavras que ela sempre quis me dizer e eu nunca pude escutar, contrastava com a inconformidade dos cabelos rijos mas que enterneciam-se ao desvendar dos meus dedos sobre os mesmos ... sinto falta, sobretudo, do calor acalentador das minhas esperanças que aquele corpo obtuso emanava sobre mim.

E este cigarro, e essa paisagem urbana deixam-me cada vez mais impassível sobre essa miserável imagem enevoada que obstina-se em queimar por dentro ...

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Sobre ruminar

"Deus, eu faço parte do teu gado: esse que confinas em sonho e paixão, e às vezes em terrível liberdade. Sou, como todos, marcada neste flanco pelo susto da beleza, pelo terror da perda e pela funda chaga dessa arte em que pretendo segurar o mundo.
No fundo, Deus, eu faço parte da manada que corre para o impossível, vasto povo desencontrado a quem tanges, ignoras ou contornas com teu olhar absorto.
Deus, eu faço parte do teu gado estranhamente humano, marcado para correr amar morrer querendo colo, explicação, perdão e permanência."
 
Por Lya Luft, 2006

terça-feira, 19 de abril de 2011

Conversas de botequim for woman

elosabariego.multiply.com

[Encontro () de mulheres]

Em um momento epifanicamente idiota antes do primeiro gole (de café), Fulana Santa Auto Suficiência diz triunfantemente:

- Sou 100%  feliz sem homem na minha vida!

[uia!!!!]

Surpresa e seguida de um coro uniforme e histérico, Ela responde:

- Sou 90%  perturbada sem homem na minha vida.




PS 1: blá-blá-blá-blá, conversa fiada pouca é bobagem ... céus! 
  PS 2: aos homens da minha vida!                                             

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Sobre beijo

Beijo, Marcos Clasen
 - Faz um café?

- Com leite?

- Não.

- Não? Nem parece filha a que veio. Lá em Minas é sempre com leite.

- É, lá é.

- Tradicional, forte, extra forte?

- Hum ... intenso, intenso do gosto do teu beijo ...

domingo, 17 de abril de 2011

Dans la salle de classe - queridão!

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- Carlos, senta, por gentileza?!?
- Ah, prof ...
- Vai, queridão ... colabora com a organização da sala ...
- Agora eu vou! Tava esperando você me chamar de queridão ... é tão legal porque nunca ninguém me chama assim ... assim de queridão.
Carlos, 11 anos

domingo, 10 de abril de 2011

Dans la salle de classe - poetarum

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"Poeta eu sou um calado!"
Harold, 17 anos

Dans la salle de classe - a arte da multiplicação

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" Depois que eu mudei  pra cá e meu pai ficou lá, meu coração ficou assim ó, Prô: em duas partes ... mas agora ele tá em dois: um com o meu pai e outro com a minha mãe."
Bryan, 11 anos

quinta-feira, 31 de março de 2011

Conversas de divã

Mulher ao espelho, Picasso - 1932

- Quem é você?
- Sou um monte de coisas ...
- Reais ou irreais?
- O que é real?
- O que é irreal?
- Você é irreal ...
- Então você é a distorção do irreal.
- Não há distorções, oras.
- Não? Por que, então, busca encontrar-se aqui?
- Quem disse que eu busco?
- Busca tanto que se perde constantemente ...
Apertou os olhos como quem esmaga o indizível e a largos passos duros balbuciou:
- Espelho besta.

Trégua dos "i's"

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 Nessas minhas noites
intermináveis de insônia é inevitável não lembrar você ... lembrança insone.
Trégua?

Sobre janelas e liquidificadores

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- Detesto quando você fica olhando pela janela ...
- Eu também.
- Sai daí!
- Não posso ... tô moída por dentro.
- Por que?
- Pelo que vejo ...
- Onde?
- Por aqui ... através da janela.
Desconfiado,  atreve-se a olhar:
- Não tem nada.
- Pois é - disse ela em meio a processos de liquidificador.