terça-feira, 6 de novembro de 2012

Sobre Querências

"Vinte e Seis de Outubro

Santo Afonso Henriques.

Fazei de mim uma escritora. Mas só isto. Nada de festivais, de júris em concursos (de beleza ou literários), de cargos em repartições chamadas culturais, de capelas, de frases de espírito. Livrai-me do fascínio que tantos dos nossos autores, hoje, têm pelo convívio com os ricos, pela adoção obrigatória de livros seus na área estudantil, pelas viagens com passagem e hotel pagos. Fazei-me orgulhosa da minha condição de pária e severa no meu obscuro trabalho de escrever."

in: Dos papéis de Julia Marquesine Enoque
(LINS, Osman. Rainha dos Cárceres da Grécia, p. 53)

domingo, 4 de novembro de 2012

Village Café - Barbárie

Muito estranha a impotência que sentimos diante dessa guerra não declarada que vivenciamos nas últimas semanas. Não entendo como alguém pode vetar meu direito de ir e vir ... não entendo como alguém pode matar por simplesmente pertencer a grupos diferenciados ... Onde fica o respeito a vida? Onde fica a tal justiça para todos? Onde fica o amor ao próximo?

Realmente, não entendo ... barbárie em tempos de evolução ...

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

110 anos da caída do Anjo Torto

Drummond, Drummond ... em quais paragens você sonha? Em que estrela você brilha?

Campo de flores
Carlos Drummond de Andrade


Deus me deu um amor no tempo de madureza,
quando os frutos ou não são colhidos ou sabem a verme.
Deus-ou foi talvez o Diabo-deu-me este amor maduro,
e a um e outro agradeço, pois que tenho um amor.


Pois que tenho um amor, volto aos mitos pretéritos
e outros acrescento aos que amor já criou.
Eis que eu mesmo me torno o mito mais radioso
e talhado em penumbra sou e não sou, mas sou.

Mas sou cada vez mais, eu que não me sabia
e cansado de mim julgava que era o mundo
um vácuo atormentado, um sistema de erros.
Amanhecem de novo as antigas manhãs
que não vivi jamais, pois jamais me sorriram.

Mas me sorriam sempre atrás de tua sombra
imensa e contraída como letra no muro
e só hoje presente.
Deus me deu um amor porque o mereci.
De tantos que já tive ou tiveram em mim,
o sumo se espremeu para fazer vinho
ou foi sangue, talvez, que se armou em coágulo.

E o tempo que levou uma rosa indecisa
a tirar sua cor dessas chamas extintas
era o tempo mais justo. Era tempo de terra.
Onde não há jardim, as flores nascem de um
secreto investimento em formas improváveis.

Hoje tenho um amor e me faço espaçoso
para arrecadar as alfaias de muitos
amantes desgovernados, no mundo, ou triunfantes,
e ao vê-los amorosos e transidos em torno,
o sagrado terror converto em jubilação.

Seu grão de angústia amor já me oferece
na mão esquerda. Enquanto a outra acaricia
os cabelos e a voz e o passo e a arquitetura
e o mistério que além faz os seres preciosos
à visão extasiada.

Mas, porque me tocou um amor crepuscular,
há que amar diferente. De uma grave paciência
ladrilhar minhas mãos. E talvez a ironia
tenha dilacerado a melhor doação.
Há que amar e calar.
Para fora do tempo arrasto meus despojos
e estou vivo na luz que baixa e me confunde.

domingo, 28 de outubro de 2012

Village Café - Cidadania



O exercício da cidadania de hoje foi moroso, quente, lento ... esperamos que os eleitos não fiquem com esse estigma e façam, ao menos, suas obrigações.

sábado, 20 de outubro de 2012

Village Café - 21 de outubro

DIA DO POETA: um afago aos que fazem do poema um breve instante de vida pulsante!



Sobre Fiíca



... tua poesia hoje me falta com especial ardor: tão doce, tão espartana, tão bela de unhas impecavelmente vermelhas, tão minha, tão eu, tão de Deus ...
Seus corações comigo carrego, como se pudesse sentir o seu batendo pertinho do meu ...

Pequenas Epifanias

Às vezes falar não é necessário ...
Sentir permite a articulação de qualquer discurso que ainda não alcancemos.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

15 de outubro

Em meio a uma infinidade de adversidades, nas quais a capacidade de amar o próximo é testada constantemente, é por razões como ESTA que tudo vale a pena.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

...




Somos fortes ... sim, somos.
Somos cúmplices de felicidade.
Somos admiradores do ininteligível.
Somos um, somos ímpares.
E, por tudo isso, somos LIVRES na imensidão do universo que nos compreende e nos apreende.


terça-feira, 2 de outubro de 2012

Sobre Almas






Não entendo porque tanto medo das verdades ... sinceridade virou escória da humanidade ...
O mais engraçado é que não lidamos com máquinas ... eu não sou uma máquina, sou ALMA.

Sobre o Astro Rei




Hoje meu dia foi triste - pesado para ser mais exata. Aí fico procurando explicações (mesmo com o EAD me paquerando) para coisas que me parecem mal explicadas ... mas já que pessoa alguma me explica que diabos é a simetria, dormirei sonhando com um anjo também inexplicável porém muito amado ...

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Village Café - sapos



O refluxo é culpa de todos sapos que a gente engole.
E, olha, a quantidade é assustadora ...

Sobre esfumaçar



Eu tenho uma doença do desespero: o exaspero por escrever quando estou escrevendo para dentro.

Tudo que contagia a minha emoção vira do avesso para dentro de mim ... e aí fico assim, espartana, colérica por uma única palavra solta no Universo que comova, acalente ou apenas exista.

Do mais, passo bem ... fico esfumaçando nuances entre o cinza e o preto e branco.

É assim.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Lobato, querem a tua cabeça!

"É ridículo o que estão tentando fazer com Monteiro Lobato." Leia a coluna de Hélio Schwartsman, "Analfabetismo histórico": http://folha.com/no1155398
(Foto: Charge publicada em 12 de setembro de 2012)


Tudo é uma questão de intenção e interpretação ... para quem fica caçando agulha no palheiro, com certeza achará inúmeras expressões que podem remeter ao racismo. Seria muito sensato considerar a época em que a obra de Lobato foi escrita e os exageros radicalistas de grupos que defendem uma sociedade mais igualitária mas exigem cotas raciais nas universidades públicas ...

Contradição pouca é bobagem ...

Talvez nossas crianças necessitem muito mais do lúdico que Lobato oferece do que discursos equivocados de direitos humanos.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

As coelhadas de um certo Coelho

Não queria mesmo perder tempo com essa matéria, mas digamos que a mesma despertou a espartana que há em mim ... como é que alguém tem tamanha pretensão em se auto-intitular como "o intelectual mais importante do país"?

Que país, caro Paul
o Coelho???? Sim, porque você só está aqui no Brasil de passagem ...

Ei!!! Você nunca leu Milton Santos ou talvez Osman Lins, não?  Falecidos, eu sei, mas a obra perpetua ...

E Antônio Cândido, caro senhor? Ah, e até mesmo Fernando Henrique Cardoso???

Se atualiza, cara ... Deveria ter aprendido algo na época em que andava com Raul Seixas, ou ter se inspirado na obra de Renato Russo ...

Ainda dá tempo, manolo ... acorda pra vida!!!!

Pretensão pouca é bobagem ...

domingo, 16 de setembro de 2012

Sobre Liberdade

A resistência (trecho), por Ernesto Sabato

O pior é a velocidade vertiginosa.

Nessa vertigem, nada frutifica nem floresce. E o medo é próprio dela: o homem adquire um comportamento de autômato, deixa de ser responsável, deixa de ser livre
e de reconhecer os outros.

Sinto um aperto no coração ao ver a humanidade nesse vertiginoso trem em que avançamos, ignorantes e temerosos, sem conhecermos a bandeira desta luta, sem tê-la escolhido.

O clima de Buenos Aires mudou. Nas ruas, homens e mulheres apressados avançavam sem se olhar, preocupados em cumprir horários que ameaçam sua humanidade. Não há mais lugar para aquelas conversas de café que foram um traço distintivo desta cidade, quando a ferocidade e a violência ainda não a haviam transformado numa megalópole ensandecida. Quando as mães ainda podiam levar os filhos às praças ou visitar seus velhos. Alguma coisa pode florescer a tal velocidade? Uma das supostas metas dessa correria é a produtividade, mas quem diz que seus produtos são verdadeiros frutos?

* * *

É impossível o homem permanecer humano a essa velocidade; vivendo como autômato, será aniquilado. A serenidade, uma certa lentidão, é tão indissociável da vida do homem quanto a sucessão das estações para as plantas ou para o nascimento dos bebês.

Estamos a caminho, mas não caminhando, estamos a bordo de um veículo sobre o qual nos movemos sem parar, como uma grande jangada, ou como essas cidades orbitais que dizem que haverá no futuro. Já nada se move a passo de homem. Por acaso algum de nós ainda caminha lentamente? Mas a vertigem da velocidade não está somente fora, nós já a assimilamos à mente que não pára de emitir imagens, como se também ela fizesse zapping; e talvez a aceleração tenha chegado ao coração, que já pulsa em ritmo de urgência para que tudo se passe rápido e não permaneça. Este destino comum é a grande oportunidade, mas quem se atreve a saltar fora? Tampouco sabemos mais rezar, porque perdemos o silêncio e também o grito.

Na vertigem da velocidade, tudo é temível e o diálogo entre as pessoas desaparece. O que dizemos uns aos outros são mais números do que palavras, contém mais informação do que novidade. A perda do diálogo sufoca o compromisso que nasce entre as pessoas e que pode fazer do próprio medo um dinamismo capaz de vencê-lo e dar a elas maior liberdade. O problema mais grave, porém é que nesta civilização doente não há apenas exploração e miséria, mas também uma correlativa miséria espiritual. A grande maioria não quer a liberdade, tem medo dela. O medo é um sintoma do nosso tempo. A tal ponto que, raspando um pouco o verniz, é fácil perceber o pânico que subjaz nas pessoas que perseguem as exigências do trabalho nas grandes cidades. A exigência é de tal ordem que se vive automaticamente, sem que os atos sejam precedidos de um sim ou um não.

A maioria da humanidade é empregada de um poder abstrato. Há empregados que ganham mais, e outros que ganham menos. Mas quem é o homem livre que toma as decisões? Essa é uma pergunta radical que todos temos de nos fazer até escutar, na alma, a responsabilidade a que somos chamados.

Acredito que é preciso resistir: esse tem sido meu lema. Hoje, contudo, muitas vezes me pergunto como encarnar essa palavra. Antes, quando a vida era menos dura, eu teria entendido por resistência um ato heroico, como negar-se a continuar sobre este trem que nos leva à loucura e ao infortúnio. Mas pode-se pedir às pessoas tomadas pela vertigem que se rebelem? Pode-se pedir aos homens e às mulheres do meu país que se neguem a pertencer a esse capitalismo selvagem, quando eles têm de sustentar os filhos e os pais? Se eles carregam tal responsabilidade, como poderiam abandonar essa vida?

A situação mudou tanto, que devemos reavaliar com muita atenção o que entendemos por resistência. Não posso lhes dar uma resposta. Se eu a tivesse, sairia por aí como o Exército da Salvação, ou como esses crentes delirantes ― quem sabe os únicos que realmente acreditam no testemunho ―, proclamando-a pelas esquinas, com a urgência que nos deveriam dar os poucos metros que nos separam da catástrofe. Mas não. Intuo que é algo menos formidável, mais modesto, algo como a fé num milagre, o que quero transmitir a vocês nesta varta. Algo condizente com a noite em que vivemos, não mais do que uma vela, algo que nos ajude a esperar.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Sobre Amor

Um ano ...

Aos olhos dos homens, apenas 365 dias.

Aos meus olhos, um universo inteiro de emoções que não ouso explicar porque minha pequenez não alcança.

Tudo que sei é que quando se é verdadeiro, quando o que importa é o sonho, a eternidade é o fim de todas as coisas.

domingo, 29 de julho de 2012

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Do momento

google.com.br/images
Era assim. Encontrava-se em estado de graça toda vez que se amavam. Gostava do aroma que exalava a mistura dos corpos a aromatizar o ambiente e a tomar a sua consciência.

Adorava a ansiedade da espera. Ao vê-lo adentrar, olhava-o com curiosidade desconhecida, como se fosse a primeira vez,  e descobria mil novos detalhes que a faziam mais atenta.

O toque, o beijo disparavam-lhe a leveza da entrega e cedia em sentimentos mais íntimos na ânsia de se sentir dele ... somente dele. Mas a entrega, aquela que entorpece todos os sentidos, só acontecia depois do amor.

Amavam-se. Sim, amavam. E depois entreolhavam-se despidos de qualquer reserva, cúmplices ao momento em que se pertenciam.

Ela, então, permitia-se mergulhar nas profundezas do negro de um olhar que a intuía e, somente neste momento, entregava-se por inteiro ou o que tinha de melhor, perpetuando e  entendendo o tempo momento.

Era assim. Era amor. Ela amava.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Da arte I

Arte - substantivo feminino na morfologia e na alma - é a demonstração do sentimento do ser denominado humano.

Encontra-se em diversas formas, cada qual demanda o seu criador. 

Muitas vezes existe, mas não há ... 

Outras vezes insiste e não persiste ...

mehmet-ozgur.com
Ora grita e não ecoa, ora emudece mas não se cala ...

Trilhou caminhos sem trilhos,

Voou sem asas,

Ganhou títulos  e não intitula-se,

Foi e não é  ... 

E talvez nunca seja porque não quer ser.

Apenas forma e des-forma, no momento em que lhe ajustar, como a alma de mulher.

Da poeira celestial

Certa vez conheci um apanhador de estrelas, desses que viajam em caudas das que são cadentes. Era todo saudade ... saudade daquilo que não o era permitido ver mas que o sentia sabiamente.
google.com.br/images

Contou-me sobre  galáxias,  explosões estelares e me fez sentir o brilho de uma supernova.

Ensinou-me, também, que os olhos são portas para a imensidão do universo, onde saudades alheias convergem em direções que reluzem caminhos nunca antes imaginados.

Concretizou sentimentos meus que volitavam em completa abstração no sentido em que as forças insondáveis os atraíssem porque eram imensos ... sim, eram imensos.

E imensos ficaram os sonhos meus porque esse apanhador de estrelas certa vez existiu, certa vez coexistiu e agora vive brilhando em meus sonhos feito poeira celestial, espalhada por todo o meu ser.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Sobre teus olhos

google.com/images
- Hoje tem lua!

- Não, não ... na verdade hoje tem luar.

- Luar, lua, são a mesma coisa ... o que interessa é que está linda!

- Você quis dizer lindo porque hoje tem luar e não lua ...

- Ora, ora ... qual a diferença, afinal?

- A lua é refletida pelos teus olhos ... o luar é a reflexão do brilho dos teus olhos na lua ... no meu coração há apenas luar ... apenas isso.